“Comunist” Boletim Colectivo IST

Boletim #01

22 de Abril 2020

Condições para estudar

O Instituto Superior Técnico, tal como muitas faculdades, tem implementado no último mês um modelo de ensino à distância, garantido aulas por videoconferência, entregas online de trabalhos, relatórios laboratoriais e testes.

Embora seja muito positivo que se esteja a continuar com os estudos no IST, os modelos de avaliação apresentam muitas discrepâncias entre si pois a decisão de como esta decorrerá não parece ser dos alunos, da direção do Técnico, ou do concelho pedagógico, mas sim de cada departamento ou mesmo de cada docente.

Antes da implementação deste tipo de ensino teria sido inconcebível entregar um relatório de uma atividade laboratorial não realizada, tanto que se um aluno faltasse a um laboratório poderia ser reprovado mesmo tendo comparecido aos restantes e tendo passado no exame. Agora, pedem aos estudantes que não compareçam aos laboratórios, mas que realizem o elemento de avaliação correspondente. Esta avaliação será completamente fútil e injusta uma vez que está a avaliar conhecimentos que os alunos não tiveram oportunidade de adquirir. Ao mesmo tempo, há laboratórios que estão a ser cancelados, passando as cadeiras a ter uma avaliação puramente teórica.

O mesmo acontece com os testes: enquanto a alguns alunos está a ser dada a oportunidade de realizar  testes em casa ou até a sua substituição por fichas e trabalhos, mantendo a avaliação continua; outros são obrigados a adiar tudo para a época de exames, ficando a avaliação do semestre condensada em apenas três semanas (duas semanas de primeira fase e uma de segunda), sobrecarregando os alunos.

Não bastando estas desigualdades que acabam por ser um pouco arbitrárias, dependendo apenas da cadeira ou do professor que se tem neste semestre, há desigualdades que não o são, recaindo sobre as pessoas que não têm computador ou acesso estável à internet em casa. Como é que estas pessoas poderiam ter uma avaliação justa se não conseguem assistir às aulas? Como poderiam ter uma avaliação justa se não conseguem realizar trabalhos pois estavam dependentes do computador da faculdade? Como poderiam sequer ter qualquer avaliação se não conseguiram ter acesso ao teste? Este é um problema com que vários estudantes se deparam, não só no IST, mas em todo o país, em todos os graus de ensino. Ter acesso a um computador é uma responsabilidade que não deve ser posta sobre os estudantes e as suas famílias, nem sobre a faculdade em si, mas sobre o governo que deve garantir a todos igual acesso à educação e à informação.

Os alunos no IST sempre tiveram dificuldades em estudar sem um computador (estando toda a matéria e informação sobre as cadeiras online e sendo necessários trabalhos que exigem uso de ferramentas informáticas para programação, modelação ou para a simples escrita de um relatório), este novo modelo de ensino não só revelou as desigualdades que já existiam antes, como as veio aprofundar.

Salas de Estudo

 

A nossa convivência nos espaços da faculdade reverte-se em vários momentos. Para além dos momentos lúdicos e recreativos com os nossos colegas, do espaço de aprendizagem e formação existente nas salas de aulas, a faculdade serve também para nós, estudantes, enquanto espaço de estudo individual. Neste sentido é sempre importante e auxiliar para complementação das matérias leccionadas o nosso próprio momento de estudo que deve ser acompanhado por condições necessárias e acessíveis a todos os estudantes do Técnico. Contudo esta não é uma realidade concreta do Técnico. Até quando todas as salas de estudo do IST estão abertas, que é raro devido à escassez de funcionários, as mesmas estão sempre cheias durante as épocas de avaliações, não só com estudantes do IST mas também com alunos de outras faculdades. Isto não é só sinal de que a disponibilidade de salas de estudo é uma necessidade real dos estudantes, em particular daqueles cujos cursos incluem muitos trabalhos em grupo, mas também de que a falta de espaços apropriados para o estudo (individual ou colectivo) é um problema que afecta todas as faculdades da ULisboa.

 

Além disso, as salas de estudo do IST, em especial as do Espaço 24, carecem de controlo de temperatura adequado, sendo que nos períodos de maior lotação a qualidade do ar é prejudicial para a saúde dos alunos, e estando os mesmos sujeitos a temperaturas extremas nos meses de Inverno e Verão, que interfere com o trabalho académico de muitos.

 

Os espaços da faculdade não devem servir só para que nós possamos ir às aulas, mas também para termos acesso a demais ferramentas que nos auxiliem e projectem a nossa aprendizagem. É ainda de realçar que os espaços do IST recebem vários estudantes de toda a universidade de Lisboa que procuram locais de estudo. Assim a criação de novos e melhores espaços seria não só benéfico para os estudantes do Técnico como para toda a comunidade estudantil da UL. 

 

Relembramos que o Estado tem como dever assegurar o financiamento das IES e garantir as condições necessárias para que os estudantes  cumpram o seu percurso académico, e por tal não se deve imiscuir do seu papel enquanto garante de um Ensino Superior digno e para todo

Estudantes saem à rua e exigem mais Acção Social!

Os estudantes do Ensino Superior saíram à rua dia 15 de Março, em Lisboa. Desde o Largo do Carmo à Assembleia da República, exigiram mais e melhor acção social escolar: bolsas de estudo suficientes em valor e em número e com um processo mais rápido e menos burocrático através da suficiência de meios nos serviços de Acção Social; cantinas públicas com qualidade, a redução do prato social e a sua gratuitidade para estudantes bolseiros; residências suficientes e em melhores condições; a reposição do desconto de 50% no passe dos estudantes. Estas reivindicações foram subscritas por mais de 7000 estudantes que assinaram um abaixo-assinado nacional que foi também entregue. Exigiu-se uma inversão da política de sub-financiamento que tem sido seguida, para impedir quaisquer aumentos das propinas, com vista à sua abolição.

A Juventude Comunista Portuguesa saúda todos os estudantes que se deslocaram a Lisboa para esta Manifestação e a luta que se desenrola por todo o país por mais e melhor Acção Social Escolar. Esta luta ganha especial importância no momento em que se discute o Orçamento de Estado para 2016, que apesar de ser um Orçamento diferente para melhor, mantém medidas que têm levado ao agravamento da vida dos estudantes, medidas essas que poderiam ter sido invertidas caso a totalidade das propostas do PCP tivessem sido aprovadas. Apelamos ao reforço da luta dos estudantes em cada escola e nas ruas, porque só com a luta é possível defender, repôr e conquistar direitos.

A Juventude Comunista Portuguesa reafirma o seu compromisso com a luta dos estudantes, por um Ensino Superior Público, gratuito, democrático, de qualidade e para todos.

Lisboa, 15 de Março
O Secretariado da Direcção Central do Ensino Superior da JCP