Tele-aulas no Ensino Superior: Ante-câmara do tele-trabalho
Assistimos desde há vários anos a sucessivos ataques ao Ensino Superior público gratuito, de qualidade e para todos, constitucionalmente previsto, através do pagamento de propinas, da carência de apoios sociais e do subfinanciamento ao qual as Instituições de Ensino Superior estão sujeitas. Com a actual situação pandémica, estes problemas agravaram-se e levaram a uma maior elitização deste nível de ensino. Contudo, embora não sendo totalmente novos quanto ao objectivo da sua criação, problemas com novas feições surgiram, tal como as tele-aulas.
Sem grande esforço conseguimos perceber que as tele-aulas no Ensino Superior, iniciadas no segundo semestre do ano letivo 2019/2020deram jeito para esconder a efectiva falta de condições materiais e humanas necessárias para conseguir leccionar aulas presencialmente e em segurança para todos. É impossível negar que houvesse um maior financiamento proveniente do Orçamento de Estado para o Ensino Superior e para as suas instituições e seria possível contratar mais professores, melhorar as condições das salas de aula e até aumentar o número destas, permitindo o leccionamento de aulas presenciais com condições e em segurança para todos. Ao invés, o que se observa é uma imposição de tele-aulas, com os estudantes em dificuldades de atenção e de acompanhamento, muitos sem acesso às condições materais necessárias, aumentando as desigualdades que já existiam no acesso ao ensino superior e à educação. Ou seja, mais uma vez, também com a criação das tele-aulas se espelha a desresponsabilização do Governo da criação de condições que possibilitem que o Ensino Superior seja de qualidade e igualitário.
Começa-se assim a aplicar um padrão aos estudantes do Ensino Superior que os espera nos locais de trabalho. Ora vejamos: também no tele-trabalho, tão badalado nos últimos meses e divulgado como a melhor revolução na vida laboral, os trabalhadores são forçados a trabalhar a partir de casa, muitas vezes apenas com as condições que aí tiverem, isolados para não reunirem nem comunicarem entre si. Já no Ensino Superior se estão a preparar os futuros explorados do grande Capital, ao qual interessa a diminuição dos custos associados ao trabalho presencial e a divisão dos trabalhadores.
Neste quadro, a luta por mais financiamento para o Ensino Superior e contra as tele-aulas deve continuar, alertando simultaneamente para o perigo do tele-trabalho.